Sobre o Fim...

 
...Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.

Caio Fernando Abreu

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A dor (in)evitável


Ela chega quando menos esperamos, como o ladrão no meio da noite. Quando tudo parece calmo, ela nos assalta trazendo frieza e solidão. A dor surge como um espinho na carne. E por mais que estejamos distraídos, ela permanece lá, nos lembrando de que algo nos feriu. A pergunta que mais tenho me feito é: como fazer a dor parar? Há momentos em que nada, nem ninguém consegue amenizar seus efeitos. A dor imobiliza, paralisa. Nos torna fracos, debilitados, nos impede de caminhar. Toda e qualquer tentativa de aliviar o que sentimos parece inútil. Tentamos retomar nossas vidas, ocupar a nossa mente, sair, conversar, ver pessoas, viver. Mas esse é um adversário forte, tão forte que parece nos vencer. Talvez um dia eu encontre a resposta para a minha indagação. Enquanto isso, sinto na carne a presença da fiel companhia, que mesmo rejeitada e ignorada por vezes, está sempre lá, me lembrando de que algo não vai bem. Quem sabe um dia, ela me mostre que estou viva e me ensine o quanto vale a pena viver.

Nilzete Brito

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Eu sei quem eu sou

 Foto: Jhudy Araújo

Ela imagina flores
Com cores que não existem em nenhum jardim
Tem amigos imaginários
Que pra toda pergunta
Respondem sim 

Tem olhos que contam segredos
E medos que ninguém quer revelar
Um mar de rosas imperfeito
Que parte ao meio pra ela atravessar
Ela olha o céu encoberto
E acha graça em tudo que não pode ver
Imagens lentamente derretem
Prometem coisas que ela sabe que nunca vai ser
Ela é leve como o ar
Foi embora e não voltou
Como você e todo o mundo
Eu também finjo que eu sei
Quem eu sou...

(Capital Inicial)

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Realidade Inventada


Caí das nuvens mais uma vez. Elas estão muito acima. Acima dos prédios, das ruas, das casas, das calçadas, do trabalho cotidiano, da vida que segue seu curso. Por muito tempo olhei para as nuvens que apareciam além das casas e desejei estar lá, no alto, voando acima de tudo. Acima dos problemas, do cansaço, da exaustão, da dor, de tudo que é verdadeiramente concreto, real. Um dia consegui alcançá-las, e como isso me fez feliz... Pensei que ficaria sempre ali, olhando a vida acontecendo lá embaixo. Mas não, as nuvens não são consistentes o suficiente para nos manter em seu colo. Percebi que não é possível viver nas nuvens, como sonhava. Elas se desmancham no ar, com o vento que passa e leva tudo. A vida aqui embaixo pode não ter a beleza das nuvens, mas pelo menos tem a qualidade de existir. E é essa vida que existe e acontece todos os dias que verdadeiramente importa.

Nilzete Brito

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Fotografia


Hoje o mar faz onda feito criança
No balanço calmo a gente descansa
Nessas horas dorme longe a lembrança
de ser feliz

Quando a tarde toma a gente nos braços
Sopra um vento que dissolve o cansaço
É o avesso do esforço que eu faço
pra ser feliz 

O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.

Quando as sombras vão ficando compridas
Enchendo a casa de silêncio e preguiça
Nessas horas é que Deus deixa pistas
pra eu ser feliz

E quando o dia não passar de um retrato
Colorindo de saudade o meu quarto
Só aí vou ter certeza de fato
que eu fui feliz

O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.

(Leoni)

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